Música, religião e produção social de espaço em uma cidade operária ‐ o caso da igreja da pastora Ana Lúcia em Belford Roxo, Rio de Janeiro

Autores

  • Álvaro Neder Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
  • Daniel Barros Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Daniela França Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Maria Clara Matos Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Mauricio Flora Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Priscilla Sued Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Rodrigo Caetano Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil
  • Rui Pereira Kopp Instituto Federal do Rio de Janeiro, Brasil

DOI:

https://doi.org/10.1590/permusi20163406

Palavras-chave:

Etnomusicologia participativa, Baixada Fluminense, Neopentecostalismo

Resumo

A música utilizada em denominações religiosas neopentecostais está passando por diversas transformações na atualidade, deixando ver fissuras e heterogeneidades no que comumente se pensa ser um conjunto doutrinário relativamente coeso em torno de certos pressupostos tidos como indiscutíveis. Sustentamos aqui que a euforia em torno de um gênero musical surgido recentemente em certas igrejas neopentecostais, conhecido como “corinho de fogo” – aqui estudado em uma das primeiras abordagens na literatura acadêmica, senão a primeira –, representa uma tendência de grande propagação entre os fiéis dessas igrejas, e que envolve inclusive questionamentos à exclusão racial e desigualdade de classe. Como evidência, apresentamos o caso da igreja dirigida pela pastora Ana Lúcia. Localizada na cidade de Belford Roxo (Baixada Fluminense, RJ), em região de extrema pobreza, a igreja atrai principalmente fiéis de famílias de baixa renda, predominantemente de raça negra. Nos cultos da pastora, uma exuberante corporalidade negra se alia a uma música fortemente percussiva que é, juntamente com a dança, bastante evocativa dos rituais religiosos afro‐brasileiros. Justamente por isso, a igreja, a pastora e seus fiéis e colaboradores sofrem críticas violentas, sem se deixar intimidar por isso, de fiéis e pastores de outras vertentes protestantes. Os resultados desta pesquisa evidenciam um caso específico de uma nova tendência entre as denominações neopentecostais, que vem acirrando de maneira verificável a heterogeneidade existente entre estas denominações, possibilitando que seus fiéis questionem fundamentos doutrinários em favor de lutas sociais e culturais que consideram urgentes. A agência coletiva de fiéis, músicos e pastores constituiu a igreja da pastora Ana Lúcia em um território social produzido ativa e afirmativamente como resposta e desafio à exclusão e preconceito, no qual a música é parte fundamental. A partir deste espaço musical e religioso, esse coletivo luta simbolicamente pelos direitos de inclusão e cidadania, e pelo respeito por suas crenças e práticas.

Downloads

Publicado

2017-02-18

Edição

Seção

Articles in Portuguese/Spanish

Como Citar

“Música, religião E produção Social De espaço Em Uma Cidade operária ‐ O Caso Da Igreja Da Pastora Ana Lúcia Em Belford Roxo, Rio De Janeiro”. 2017. Per Musi, nº 34 (fevereiro). https://doi.org/10.1590/permusi20163406.