O anjo e a besta: a antropologia pascaliana no laboratório de Machado de Assis

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17851/2317-2096.29.4.65-82

Palavras-chave:

jansenismo, Machado de Assis, Blaise Pascal, bestialização, ceticismo

Resumo

A ficção de Machado de Assis coloca em disputa a metáfora antropológica utilizada pelo filósofo Blaise Pascal para descrever a natureza ambígua do ser humano. Neste artigo, revela-se o processo que levou Machado a apropriar-se da antropologia pascaliana. O recorte deste processo incide sobre o conjunto de crônicas “Notas Semanais”, escrito em 1878. Machado antecipa alguns pressupostos do que conhecemos por literatura fantástica, dando vida a seres inertes, compilando uma espécie de bestiário, descrevendo espetáculos com animais fabulosos e monstruosidades humanas. O leitor e a plateia, que se divertem e contemplam o espetáculo, se rebaixam e se transformam, igualmente, em bestas. Saiba-se que a falência do projeto romanesco de caracteres e a recusa das doutrinas literárias realistas são alguns dos motivos que forçaram Machado a reinventar a forma narrativa. Do mesmo modo, os pressupostos da antropologia pascaliana são redirecionados para uma investigação cética, e até grotesca, da realidade.

Biografia do Autor

  • Alex Lara Martins, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais

    Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Fez a graduação em Filosofia na UFMG, com formação complementar aberta e ênfase em letras, e mestrado em Filosofia pela mesma Universidade. Possui, ainda especialização em Gestão Pública. É professor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais desde 2013. Como pesquisador, atua principalmente nos seguintes temas: Filosofia no Ensino Médio, Literatura e Filosofia, Ceticismo, Machado de Assis, Teoria da ficção, Filosofia no Brasil.

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Publicado

2019-12-19

Edição

Seção

Dossiê – Criadores e Criaturas na Literatura

Como Citar

O anjo e a besta: a antropologia pascaliana no laboratório de Machado de Assis. (2019). Aletria: Revista De Estudos De Literatura, 29(4), 65-82. https://doi.org/10.17851/2317-2096.29.4.65-82