Representando a resistência negra no Brasil: originalidade e limites de Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves
DOI:
https://doi.org/10.17851/2317-2096.28.4.65-85Palavras-chave:
Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves, literatura afro-brasileira contemporânea, resistência cultural, representaçãoResumo
Com uma poética calcada no transplante cultural africano, Ana Maria Gonçalves leva a cabo, em Um defeito de cor, a tarefa titânica de recontagem da resistência negra no país a partir de um ponto de vista feminino e negro. No relato de uma narradora octogenária, ex-escrava de nação jeje, o fôlego monumental do romance perfaz aprofundada vivência de culturas originárias, incorporando léxicos de etnias traficadas e ritualísticas totêmicas, em tentativa de representação da importância de tal legado para a integração negra no Brasil. Sustentamos que a originalidade daí desprendida é capaz de contraditar um dos marcos da sociologia crítica brasileira: a tese A integração do negro na sociedade de classes, de Florestan Fernandes. Essa complementação fundamental a historiografias consagradas sobre as populações afro-brasileiras depende das possibilidades do registro ficcional, as quais, no entanto, ficam obstadas por escolhas formais conservadoras, que limitam, sem anular, a potência literária da obra.
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